POR: PE. GERALDO TADEU FURTADO, RCJ
A espiritualidade
está se tornando cada vez mais importante no mundo pós-moderno, especialmente
nesse tempo de mudanças bruscas. É tema recorrente em nossa cultura, e o desejo
de espiritualidade é grande, como afirma o Leonardo Boff. Ele diz que a
espiritualidade não está só âmbito das religiões, e que devemos pensar em uma
“espiritualidade humana” (BOFF, Espiritualidade, Sextante, 2001, p.11).
Uma espiritualidade verdadeiramente cristã que diz respeito ao chamado à vida
em todas as suas dimensões. Uma espiritualidade essencialmente vocacional!
Espiritualidade e vocação são um binômio inseparável. Lembremos, pois, que
pessoas com responsabilidade na economia e na política buscam por
espiritualidade, e ela tem encontrado espaço nas organizações em geral, no
mundo corporativo, especialmente. Mas qual espiritualidade? Falamos de uma
espiritualidade inserida na consciência ética do respeito pelo outro, pela vida
desde a sua concepção, na proteção e sustentabilidade de nossa Mãe Terra.
Uma espiritualidade humana e dialógica, comunitária e menos intimista. Uma
espiritualidade capaz de transformar as pessoas em seres super-humanos que
transcendam a favor da solidariedade, da justiça, da paz e do amor universal.
Falamos de uma espiritualidade vocacionada a defender a vida e a tornar as
pessoas mais responsáveis umas pelas outras. Perguntamos pela espiritualidade
praticada em nossas Paróquias
e Casas Religiosas?
Vivemos
tempos fortes, em uma cultura do descartável e da provisoriedade, quando o
sentido da vida vem perdendo forças, quando a ternura e a bondade são sufocadas
pela superficialidade e a emergência do ´aqui e agora´, do ´já´ sem passado e
nenhuma perspectiva de futuro. Vivemos a ditadura do “não tô nem aí”. Por isso
pessoas de todas as idades, vêm perdendo o sentido da vida e necessitam serem
incluídas nesse novo mundo que vai surgindo.
Não
obstante a tudo, não queremos nos somar ao coro dos lamentosos e dos
indiferentes. Estou convencido de que a prática da espiritualidade na vida das
pessoas, na preparação e capacitação para o exercício dos vários serviços e
ministérios, bem como nos treinamentos daqueles que atuam nos serviços
públicos, privados e sociais, colocará pouco a pouco em desuso gestos arcaicos,
e até ditatoriais, da não relação humana, do individualismo e de vários tipos
de violência. Acredito que a espiritualidade é capaz de quebrar a ditadura da
indiferença humana, da autossuficiência, da arrogância e da falta de
solidariedade humana. Praticar a espiritualidade, a hospitalidade, a ternura e
a comensalidade (uma das referências mais ancestrais da familiaridade humana),
é uma questão vocacional, uma resposta ao chamado de Deus. Para enfrentar os
desafios do mundo pós-moderno, deve-se pensar em uma espiritualidade vocacional
que indique novos caminhos nas relações humanas. E, se é verdade que toda
vocação nasce do batismo, ela deve ser cultivada no seio da família, da
comunidade eclesial e, principalmente, por meio da inserção na realidade do
mundo como um sinal profético.
Espiritualidade
é mais que práticas religiosas e crenças
Hoje
muitas organizações como, por exemplo, as empresariais, têm descoberto que seus
colaboradores, “funcionários”, têm uma vida interior que é alimentada pela
vocação do trabalho.
Poderíamos
nos perguntar: Em nossas organizações religiosas, Paróquias, Casas Religiosas,
Obras Sócio-educativas e Institutos religiosos em geral, como se pratica e se
vive a espiritualidade cristã? Lembremos, pois, que a espiritualidade é mais
que determinadas crenças e práticas religiosas. As práticas religiosas, os
ritos, as orações em geral, são mediações importantes que fortalecem a
espiritualidade, que entretanto não se esgota aí.
A busca
pela espiritualidade tem crescido, particularmente no meio profissional, no
mundo corporativo como um todo. No campo acadêmico esta busca por
espiritualidade tem despertado inúmeros estudos. Podemos dizer que são reflexos
do mundo pós-moderno, que serão positivos se forem convertidos para uma espiritualidade
comunitária, encarnada e comprometida com a defesa da dignidade humana.
É
urgente praticar a espiritualidade vocacional no mundo pós-moderno
A
espiritualidade é uma das possibilidades de se obter um significado maior para
a vida, a oportunidade de desenvolver potenciais e, de se realizar como ser
humano emocional e intelectual. Outro dado importante ocorre nas relações
interpessoais de amizade, cooperação e ajuda mútua; onde as pessoas podem se
sentir inseridas em comunidades humanas que lhes permitam satisfazer
necessidades de filiação e pertença. Ora, esta é uma questão essencialmente
vocacional e que deve ser percebida em nossas comunidades.
A
Espiritualidade Cristã nos indica várias mediações para a sua prática. Dentre
as mediações que fortalecem a espiritualidade encontramos o valor inestimável
da leitura das Sagradas Escrituras, da oração e da meditação, da participação
na Celebração Eucarística. Praticar a espiritualidade nesse mundo pós-moderno é
urgente.
Responder ao chamado de Deus, à própria vocação, é se questionar
cotidianamente: Como estou? Como vai minha vida, minha oração, minha família,
meu trabalho, minha pastoral, minha ação social, meu lazer? É necessário
recriar uma espiritualidade vocacional que leve as pessoas ao discernimento
e a redescoberta de sua vocação e missão neste mundo pós-moderno. É
interessante destacar que o tema da espiritualidade aparece precisamente no
momento em que o mundo reflete com maior profundidade sobre os seus
compromissos éticos e morais na história da humanidade. Somos desafiados pela
necessidade de ir mais fundo, de procurar em nossa espiritualidade o caminho e
a resposta ao sentido da vida e na reconstrução de um mundo possível e
solidário contra a falta de dimensão humana muito presente no século XXI. Peço
licença a Viktor Franky, de saudosa memória, e afirmo que o ser humano precisa
“dar conteúdo” ao seu sentido de vida.
Desejo
que na prática da espiritualidade você leitor seja discípulo missionário de
Jesus Cristo, em sua comunidade, no seu trabalho, na sua ação social e no
compromisso a serviço da vida. Paz!Pe. Geraldo Tadeu Furtado, RCJ é Diretor-secretário do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), Responsável do núcleo de assessorias do Centro Rogate do Brasil e ministra cursos e retiros espirituais na ótica vocacional.
Site: www.rogate.org.br
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